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O projeto

Giselle Beiguelman, 2014

 

Beleza Convulsiva Tropical discute a tensão entre natureza e cultura, o informal e o formal, as situações de enfrentamento entre controle e descontrole que se emaranham à história cultural e urbana do Brasil.

Aqui os trópicos são entendidos como uma situação e não como um dado climático. Reverberam alguns conceitos do surrealismo de Andre Breton, configurando o contexto de uma abordagem não romântica das ruínas, pensadas como matéria em movimento e história do tempo em ação.

O projeto tem como centro uma intervenção no Arquivo Histórico da Bahia que se apropiou da arquitetura e da situação urbana e social do seu edifício, utilizando como chave de sua leitura uma frase escrita com musgo (moss graffiti) e uma narração (áudio).

Espalhados pelo edifício e na cidade, uma série de série de pôsteres e lambe-lambes reunia as perguntas que fiz às pedras no processo de pesquisa para a intervenção. Foi um processo de mais de seis meses em que me me vi diante do desafio de desenvolver uma obra em um lugar em que não se podia acender a luz, pelos riscos de incêndio a que o prédio do Arquivo (um solar jesuíta do século 16) estava exposto, dada à gravidiade de suas condições físicas.

Para entrar na sala que ocupei no Arquivo da Bahia, era preciso galgar um pedregulho e entrar pela janela. A beleza arquitetônica do velho solar onde o Padre Antonio Vieira refugiou-se escondendo-se da Inquisição, as marcas dos anos em que foi leprosário (da expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal até os anos 1930), os mais de 50 anos em que ficou abandonado e foi invadido de todos os lados por ocupações informais, o cinturão de cemitérios no seu entorno, a mudança do Arquivo para esse edifício pelo Governador Antonio Carlos Magalhães (e a perda da documentação do DEOPS baiano), foram algumas das camadas que o projeto enfrentou, incorporou e interregou.

Este site não dá conta da densidade da experência vivida ali. Não chega a ser um registro do que fiz, mas é uma tentativa, ainda que frágil, de deixar algum rastro de uma história de Beleza Convulsiva Tropical. Estão disposníveis aqui:

Beleza Convulsiva Tropical (intervenção no Arquivo da Bahia): apresenta álbum de fotos do local (acesso pela janela, entorno, grafite de musgo). Traz, também, o texto gravado em áudio na sala que ocupei no Arquivo da Bahia (Os trópicos parecem conspirar contra a memória...) que conta a surreal história daquele prédio e de sua inserção institucional e urbana;

Perguntas às Pedras: são as séries de questões que apareceram ao longo do processo de pesquisa e que se transformaram em lambe-lambes e posteres de ativação do projeto;

Imagens do Além são as fotos do entorno do Arquivo Público, das ocupações informais e das invasões do seu terreno e do cinturão de cemitérios ao redor do prédio.

A documentação detalhada da intervenção, o arquivo de áudio da narrativa que se ouvia na sala onde fiz a intervenção, as peças gráficas e suas matrizes, bem como a documentação fotográfica exposta durante a Bienal da Bahia pertecem ao acervo do MAM-Bahia.

O projeto foi especialmente criado para a 3a Bienal da Bahia, no módulo Arquivo e Ficção, com curadoria de Ana Pato.
Seria impossível sem sua interlocução, apoio e garra.

 

Agradecimentos:

Aos curadores da Bienal da Bahia Marcelo Rezende, Ana Pato, Ayrson Heráclito
Eduardo Simantob e equipe de Comunicação
À Laura Melo, Carol Almeida e Camila Farias do MAM-Bahia