O caos aéreo na Europa, determinado pelas cinzas do vulcão da Islândia, coincidiu com a abertura dos trabalhos do júri do ars electronica, uma espécie de “Nobel” da cultura digital.
A situação é paradoxal. Estar aqui em Linz, na Áustria, discutindo o futuro da tecnologia e as tendências da sociedade em rede e assistir o curto-circuito natureza-técnica que se instaurou com a dispersão da poeira vulcânica proveniente da Islândia.
E digo assistir porque o estado de impotência é total. Não há nada que possa fazer para sair do lugar.
O júri, dividido em seis categorias, reúne de mais 30 pessoas que vieram a Linz e, no momento, estão com dificuldades de voltar para suas casas ou prosseguir suas viagens. Os trens estão lotados e para mim, como para outros vários passageiros transatlânticos a sensação é de estar, subitamente, congelada no espaço e no tempo.
Numa época como a nossa, em que nos acostumamos a conviver com facilidade de deslocamento e especialmente com a possibilidade de ação, via meios de comunicação, em momentos de tensionamento das crises sociais, a nuvem de poeira vulcânica impõe um regime de lentidão que é difícil de traduzir ou explicar.
Tudo parece muito vagoroso. As atualizações dos sites, as twitadas, os posts, a televisão etc não dão conta. Por mais que se fale, se escreva, se enviem mensagens, nada muda, nem poderá alterar o quadro.
O ritmo da nuvem é mais do que lento. É de total imobilidade.
claudia
abril 18, 2010 at 16:58
desaceleraçao imposta pela natureza, em alemao eu diria “beruhigend”!
Lucio Agra
abril 18, 2010 at 23:10
Dá-se um tipo especial de suspensão do tempo. É possível saber de tudo o que se passa mas perde-se a homologia entre a velocidade da informação e a velocidade dos deslocamentos.
Talvez para provar que uma não conduz necessariamente à outra. Como seriam possíveis aventuras contemporâneas tais como a do professor de Código Da Vinci se os voos fossem cancelados?
O ponto extraordinário aqui – que vc. tão bem notou, Gisele – é que o preço pago para obter a vertigem da informação é ao mesmo tempo caro demais para a existência das pessoas… a menos que se pense que essas “paradas” (como a da semana passada, quando o Rio parou de funcionar) é a “oportunidade” de mergulho naquele excedente/resíduo de informação do qual não damos conta na pressa de todo dia.
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Juliana
abril 19, 2010 at 07:47
Estou presa em Londres com a mesma sensação…
denise
abril 19, 2010 at 09:02
Virilio demonstra em seus escritos a imobilidade e a velocidade absoluta se aproximam, nada mais resta do que ficar preso velozmente no transito
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malu
abril 20, 2010 at 02:09
Se o espaço-tempo pode ser mesmo curvado, imagine a beleza e intensidade da curva criada por essa energia, essa massa suspensa…e a velocidade em que essa curva esta se movendo, transformando o espaço e o tempo ao seu redor, chegando até aqui como marolas no mar. Que coisa mais assustadora e fascinante! Boa sorte.
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Márcia Almada
abril 22, 2010 at 11:08
Queremos andar rápido e voar. Mas as cidades não deixam. Rio de Janeiro, 21 de abril. A Igreja Universal, com seu mega evento na enseada de Botafogo, com sua vista paradisíaca, conseguiu deixar milhares de cariocas parados no trânsito. Gente que não foi operada, bebê que nasceu em casa ou no carro, doentes que não foram visitados, passageiros que perderam o vôo, compromissos adiados, lazer perturbado. Quem paga essa conta? Não será Deus, nem o Prefeito, com sua já confirmada incompetência para planejar a cidade. O direito básico de ir e vir tem seu ritmo imposto pela ineficiência. Nos resta sentar e pensar sobre a imobilidade.
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