Ouvir Imagens, 24/6. Rádio USP.

A quinta temporada de Black Mirror chegou incensada pelo anúncio das imagens gravadas em São Paulo e foi pura decepção. Roteiros fracos, imagens banais e nenhuma surpresa.

https://youtu.be/iB-xHv3jtxQ

Esperei essa temporada como uma espécie de recompensa para a chatice que foi o tão alardeado especial interativo, o filme Bandersnach. Lançado em outubro último, teve como “grande” trunfo nos recordar como era a vida na época do CD-ROM. E nada mais que isso.

Toda essa decepção se justifica porque as primeiras quatro temporadas primaram por abordar as tecnologias de comunicação e informação contemporâneas, de forma crítica e distópica, pelo prisma das relações entre cultura, mídia e sociedade.

Vigilância, próteses neurológicas, clonagem humana, redes sociais digitais, realidades aumentadas, memória foram alguns dos temas cobertos pela série que estreou em 2011. Sua precisão na cartografia simbólica era tamanha que se popularizou a expressão: “isso é muito Black Mirror”.

O professor da UFBA Andre Lemos, um dos principais teóricos da cultura das redes, escreveu um livro sobre a série e nele, sem exagero, chamava a atenção para a popularidade dessa expressão (Isso é muito Black Mirror). Isso, ele diz, evidenciava “o estranhamento, o incômodo e, às vezes, a sensação de pavor, medo ou asco, quando encontramos similaridades entre as histórias contadas na série e a nossa relação com as atuais tecnologias digitais e comunicação e informação, principalmente a internet e as redes sociais. A expressão ilustra, ao mesmo tempo, que algo apontado em Black Mirror já está acontecendo ou irá acontecer muito em breve.”

A Quinta Temporada

https://youtu.be/ssr40U3-do0

Mas isso não se repete na nova temporada. O primeiro episódio, o que se passa em São Paulo, é definitivamente o pior. Não vou entrar em detalhes para não contar aqui o episódio, mas basta dizer que o enredo gira em torno de uma relação entre dois amigos que a partir de um jogo em realidade aumentada, vai ganhando contornos de uma relação amorosa.

A sexualidade enrustida que se libera nos ambientes on-line, retoma clichês do começo da internet, em que as pessoas apelavam às salas de chat para incorporar uma outra personalidade.

A inserção de São Paulo é uma bobagem. O Copan, o Minhocão e o viaduto Santa Efigênia comparecem como cenário inerte, sem qualquer influência ou relação com a história. Essas cenas mostram mais o vigor da SP Comission, área da Spcine responsável por filmagens na cidade, com quem a Netflix negociou as locações em São Paulo, que qualquer outra coisa.

Enfim, me pergunto se a fragilidade dessa quinta temporada, de uma série que já foi tão crítica e premonitória, no seu retrato distópico do nosso tempo, não é um efeito de uma realidade que se tornou muito mais distópica que a ficção.

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