Disturbingly Familiar is a visual and textual diary of my first trip to Poland, from where my grandparents fled to Brazil after World War I. The piece comprises a sound installation and 16 postcards, which come together to recount my travel experience through images, first-person accounts and quotes from other authors including Hal Foster and Andreas Huyssen.
Disturbingly Familiar
(transcription of the text narrated by me)
Beiguel like bagels
I arrived in Poland without any mental images.
Landing in Warsaw, I discovered that I was entering into neither a black hole nor a blank white page of sorts, but into a gray area; a land without narratives.
My only reference was one memory, from when I was 9 years old, of my grandma Sonia, in winter, the snow covering her legs up to her thighs. My mother told me how she missed the flowers of her city, Przelmysl, and that there had been an apple tree in the orchard.
I take that back. There was one more memory. My father used to tell the story of his great-aunt, who wore her veil while sunbathing during the brief summer in Deblin/Irena, terrifying all the children of the shtetl. She lived to be over 100 years old. And every morning she fasted, drinking a bowl of aquavit…
And that was all that I knew, or what was left of them.
Mostly what there was were the losses.
This must be why I am so attached to names. I have great difficulty understanding how people don’t associate my name, Beiguelman, with bagels, the famous Jewish bread.
But it surprised me even further when I discovered that my interlocutor didn’t even know what a bagel is!
Full text: PDF
Commissioned by Culture.PL, as part of the Polish culture in Brazil program. Presented by Videobrasil at Galpão VB.
June 25th-August 20th, 2016.
Perturbadoramente Familiar
(transcrição do texto narrado por mim)
Beiguel como os Bagels
Cheguei na Polônia sem imagens mentais. Aterrissar em Varsóvia foi descobrir que estava entrando não em um buraco negro, nem em uma espécie de página em branco, mas em uma tela “em cinza”, um território sem narrativas. Minha única referência era uma lembrança de minha ‘vó’ Sonia, aos 9 anos, no inverno, e a neve cobrindo suas pernas até a altura das coxas. Minha mãe dizia que ela sentia saudades também das florzinhas de sua cidade, Przelmysl, e que tinha uma macieira em seu pomar.
Minto. Tinha outra lembrança também. Meu pai contava a história de uma tia avó dele, que colocava a mortalha para tomar sol no breve verão de Deblin/Irena e apavorava todas as crianças no schtelt. Ela morreu com mais de 100 anos. E tomava uma cumbuca de aquavita em jejum todas as manhãs…
E isso era tudo o que eu sabia, ou que lhes restara. No mais, o que havia eram as perdas.
Deve ser por isso eu seja tão apegada a nomes. Tenho muita dificuldade em entender como as pessoas não associam meu nome, Beiguelman, aos bagels, o famoso pão judaico. Mais ainda, me surpreende quando descubro que meu interlocutor sequer sabe o que é um bagel… Continua: PDF