Está no ar, Ouvir Imagens, minha coluna na Rádio USP. A coluna é semanal e apresentada às segundas-feiras, às 8 horas. Fica disponível on-line epode ser acessada a qualquer hora em qualquer lugar.
Aproveitando o Dia da Mulher, falo na estreia sobre as novas políticas de gênero. Por isso, começo apresentando a artista Heather Dewey-Hagborg. Ela utiliza análise de DNA e impressão 3D em seus trabalhos para questionar a manipulação ideológica da genética, como em Probably Chelsea (Provavelmente, Chelsea), um de seus últimos trabalhos, que é uma instalação sobre Chelsea Manning.
Para quem não lembra, Chelsea Manning é uma transexual, ativista, que foi analista de inteligência do Exército do EUA. Nascida sob o sexo masculino com o nome Bradley Edward Manning foi o responsável pelo vazamento dos documentos que, em 2010, foram publicados pelo Wikileaks, no escândalo Cablegate e é hoje uma defensora dos direitos da população trans e das políticas de transparência governamentais.
No próximo dia 15 as duas participam de um debate sobre Inteligência Artificial e suas implicações sociais na Universidade de Michigan, que posteriormente será disponibilizada em vídeo na Internet. A parceria entre elas começou em 2013.
Na época em que estava na prisão, não circularam imagens de Chelsea, a não ser uma velha e desbotada foto de seu rosto. Heather Hagborg resolveu recuperar esse corpo ausente e fazer o seu retrato, a partir do DNA da própria Chelsea, enviado à artista da prisão. O resultado desse processo são 30 retratos.
Para a sua execução, foi realizado um processo de manipulação algorítmica do código genético de Chelsea Manning. A consequência disso é muito perturbadora. Pois a partir do conjunto de dados extraídos do DNA da Chelsea Manning, aparece uma variedade surpreendente, em termos de cor, gênero e tipo físico de rostos.
Apresentados, em conjunto, modelados em impressão digital 3D, parecem máscaras. Enigmáticas, elas levantam questões sobre a política de produção de imagens em uma era de vigilância em que se combinam a governança biométrica e a possibilidade de Design dos corpos.
Saiba mais sobre Probably Chelsea de Heather Dewey-Hagborg