Participei da Flip 2018 em atividades que integravam sua programação paralela de duas formas. Como artista, integrei a exposição Livros de artista: uma antologia, com Perturbadoramente Familiar, na Casa Fedrigoni, e participei, também, do bate-papo de lançamento do livro Espaço em Obra, das Edições Sesc.
Escrevi a orelha desse livro, Espaço em obra, que é o resultado de uma parceria entre Guilherme Wisnik, professor da FAUUSP, e o designer Julio Mariutti que vem da época em que os dois trabalharam juntos na revista Bamboo. Na revista Guilherme escreveu uma coluna de 2012 a 2016, que colocava a arquitetura, o urbanismo e a arte em diálogo com o design gráfico, a partir das interlocuções com Julio Mariutti, autor da imagem de abertura deste post.
O livro apresenta, além dos artigos publicados na Bamboo, cinco inéditos e esse conjunto foi organizado a partir de três chaves temáticas: os desafios do urbanismo, o sul global e as relações entre arte e arquitetura.
Apesar de produzidos isoladamente e em diferentes épocas, formam um todo integralmente novo. Nele se avizinham, sem que se criem falsas continuidades, perfis analíticos de cidades como Tóquio, Shenzen, Brasília e São Paulo, e de artistas como Helio Oiticica, Cildo Meireles, Gordon Matta-Clark e Michael Wesely, para citar alguns. Somam-se a eles verdadeiros “flashes” de arquitetos e estúdios, como Sergio Bernardes, Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer e, entre os internacionais, Tadao Ando, Herzog & de Meuron, Diller Scoffidio e SANAA. Todos retratados a partir de suas obras.
No que diz respeito ao Brasil, destaco as reflexões sobre o Plano Diretor municipal de São Paulo aprovado na gestão de Fernando Haddad, em 2014, e o olhar retrospectivo para interrogar quais foram os desdobramentos, no campo da urbanização contemporânea, do “espetáculo do crescimento” do governo Lula.
Entremeando esses temas são colocadas discussões que nos levam a repensar a emergência de alguns fenômenos recentes como as manifestações de 2013, e movimentos do tipo do Ocupe Estelita, no Recife, e Praia da Estação, em Belo Horizonte, que marcaram as formas de ativação do espaço público nas cidades brasileiras. Essas reflexões, sobre fatos que parecem ter se perdido em alguma curva da história, dão ao livro um interessante aspecto documental.
Por outro lado, chama-se a atenção para algumas continuidades em nossa história urbana, como a vitalidade paradoxal, porque mortífera, da cidade organizada como “Carrópolis”.
Esse tipo de cidade é estruturada a partir da ilusão de liberdade que o automóvel nos dá, ainda que nos aprisionando no trânsito, poluindo o ambiente e consumindo desmedidamente combustível fóssil. Símbolo de um “life style” irresponsável, a Carrópolis corrobora uma tese cara a Wisnik, a de que “o conceito de obsolescência programada está se deslocando dramaticamente das mercadorias para o próprio território do planeta.” Dá o que pensar.
Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).
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