A internet transformou completamente os modos de fazer política e as campanhas eleitorais. Entre essas transformações, destaco os memes. Os memes são aquelas imagens irônicas, geralmente acompanhadas de textos curtos em letras garrafais, feitas para serem compartilhadas que aderem a temas do momento.
Para além das brincadeiras com celebridades, torcidas de futebol, novelas e afins, os memes se converteram em uma espécie de comentário à queima-roupa de todos os acontecimentos cotidianos. São um verdadeiro noticiário paralelo, baseado em imagens. Se antigamente valia o slogan: “Aconteceu, virou Manchete”, hoje o correto seria dizer: “Aconteceu, virou meme”.
Um bom exemplo foi o primeiro debate entre os candidatos à presidência promovido pela Bandeirantes, no dia 9 de agosto. Enquanto o debate acontecia na tevê, transmitido ao vivo pelo YouTube, o Twitter fervia com imagens que ironizavam momentos de indecisão dos candidatos, as incontáveis menções a Deus e as comparações entre o cenário do debate e o do Master Chef. Nada superou, porém, a febre Ursal, que tomou a Internet.
Memes e a nova cultura das imagens
Do ponto de vista da cultura visual, os memes são compostos com os resíduos da comunicação imagética e migram de uma mídia para a outra, indo da tevê, por exemplo, às interfaces das redes sociais. São imagens apropriadas, e que no seu processo de circulação, apagam os seus rastros de origem e autoria. De baixa resolução, são uma espécie de imagem bastarda e sem assinatura, mas que atuam como um contraponto aos sistemas de representação dominantes.
Por outro lado, como utilizam muitas vezes, em diferentes contextos as mesmas imagens, com novas legendas, revelam também uma contração do repertório visual que é criado nas redes. Isso conjugado ao imediatismo, concisão e volatilidade dos memes, expressa, também, a impossibilidade de discussão e reflexão que impera no modelo de redes sociais atual.
De qualquer forma é inegável que estamos diante de um novo contexto, não só da história da política, mas também do papel das imagens nas campanhas políticas.
Foi-se o tempo em que a visualidade da política concentrava-se nas máquinas de propaganda do Estado e em campanhas de “santinhos” impressos, fotos e vídeos dos candidatos em comícios, carregando criancinhas em favelas, tomando café em bares da periferia e inaugurando obras.
Não que essas imagens deixaram de existir, mas a associação entre imagem e política agora é de outra ordem. Mais que lugar e meio de transmissão de ideias e linguagens, a imagem é o próprio campo das tensões políticas. É na imagem, e não a partir dela, que os embates se projetam socialmente.
Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).
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