A história das eleições de 2018 vai ser contada na Internet e pela Internet. Precisamos criar rapidamente métodos para represar o incalculável material gerado nas batalhas on-line entre os candidatos.
Durante meses recebemos memes, compartilhamos posts, seguimos perfis que arrebataram multidões, como o da Ursal e o da barbie fascista, no Instagram, entramos em grupos fechados novos no Facebook, fomos atrás dos novos movimentos no Twitter e, nas últimas semanas _ como esquecer? _ fomos todos capturados pelas “cruzadas” de mensagens dos grupos de Whats App.
Para onde vai todo esse material? Quem vai guardar essa memória?
Estamos diante de um fenômeno novo, de produção de discurso e de linguagem que vem de todos os poros da sociedade
Temos que resguardar o acervo das memórias das eleições de 2018. Inclusive as Fake News. São o registro de como vivenciamos as eleições mais fratricidas da nossa história recente.
A Library of Congress, Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, acaba de lançar um projeto de crowdsourcing, o crowd.loc.gov, orientado para a transcrever e classificar os materiais de suas coleções, a fim de torná-los disponíveis na internet, que pode ser um bom ponto de partida para pensar sobre como arquivar a história das nossas eleições.
Crowdsourcing é um método de trabalho colaborativo em que se distribuem tarefas para serem realizadas de modo voluntário em torno de um objetivo comum. A Wikipedia, do meu ponto de vista, é o melhor exemplo do que o crowdsoursing representa.
Faço essa ressalva, porque o termo é muito associado à divisão de tarefas maçantes, que ninguém quer fazer, num espécie de reinvenção de escravidão pelo capitalismo 2.0 e não é esse o foco. A ideia é trabalhar com as multidões, no sentido que o teórico italiano Antonio Negri dá ao termo. Não são massas informes, são coletivos inteligentes que se unem em torno de objetivos comuns.
Pois bem, nessa estratégia da Biblioteca do Congresso, o que se procura fazer é criar uma nova forma consolidar o acervo a partir dos inputs dos seus usuários. Mas isso não é feito de forma anárquica e aleatória. Foi criada uma divisão numa plataforma de compartilhamento dos metadados e uma equipe que faz a interlocução com os voluntários.
Temos que elaborar algo semelhante para preservar a memória das eleições de 2018.
Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).
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