Como não pensar em ruínas, diante do dilaceramento político e social que vivemos, assombrados pela catástrofe? Tema caro ao imaginário fotográfico, as ruínas se impõem como protagonistas e chaves de interpretação do contexto urbano desde o século 19. Não apenas porque foram recorrentemente retratadas, mas também porque nenhuma arte foi tão decisiva para sacralizar a crença no futuro como a fotografia.

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Até o fim dos anos 1920, a imagem da ruína não é um prenúncio do fim, pois guarda a potência para presentificar aquilo que é vivo na morte, como escreveu Walter Benjamin em O drama barroco alemão. Acalentava uma ideia de futuro, ainda que esse futuro fosse projetado em um passado que não foi. Mas hoje, diante dos desmoronamentos cotidianos, de incêndios que consomem patrimônios e desastres ecológicos e políticos, que engolem vidas e soterram paisagens, o que prevalece é o sentido da catástrofe, do tempo que não terá um depois. O Museu Nacional, Notre-Dame, Brumadinho são algumas evidências desse novo tempo das catástrofes que domina o nosso presente.

Aparece com tons apocalípticos, como na nova série do artista Alex Flemming, que inaugura exposição dia 15 de junho, na Kirche am Hohenzollernplatz (Igreja da Hohenzollernplatz ), em Berlim; ou ceticamente desencantados, como no ensaio fotográfico de Ana Ottoni sobre as ruínas brutalistas paulistas (em destaque neste post).

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Nesse contexto, ganham relevância obras artísticas que se nutrem da própria imagem para desconstruir o sentido apaziguador que a fotografia adquiriu ao sabor das redes. Como acontece em Disruptions (2015-2019), do fotógrafo palestino Taysir Batniji, baseado na França desde 1994. Em exposição no MAC VAL (Vitry-sur-Seine) até agosto, a série é um conjunto de 86 screenshots de videochamadas com sua mãe e a família, residente em Gaza, onde ele nasceu e cresceu, mas para onde não pode voltar desde 2006 por conta do bloqueio israelense.

Pixelizadas, corrompidas, fragmentadas, as imagens trazem todas as marcas das interrupções contemporâneas: exílio, nomadismo e deslocamento (social e afetivo, sobretudo). São imagens que se afinam com o glitch, a estética do ruído comunicacional e da ruína tecnológica. Ela atua como um contraponto às visões lineares de progresso e nos permite repensar a tecnologia de pontos de vista que são menos eufóricos e conservadores, contextualizando-a em relação a perspectivas de instabilidade e desorganização social.

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