A exposição Harun Farocki: quem é responsável? inaugura no dia 17/9 e é fundamental para compreender as transformações do cotidiano do trabalho no mundo contemporâneo.
A exposição que antecipa a uberização da atualidade acontece no Instituto Moreira Sales, com curadoria de Antje Ehmann e da Heloisa Espada, que também é coordenadora de artes visuais do IMS.
Reúne sete obras desse artista fundamental que nos deixou tão cedo, apresentando o mundo do trabalho a partir de situações que vão do século XVI ao cenário contemporâneo.
Nos filmes e videoinstalações, Farocki mostra as diferentes estratégias de exploração e alienação do trabalhador e reflete sobre como os meios de produção e as tecnologias definem relações pessoais e a organização social,
Um dos destaques da mostra é a videoinstalação A saída dos operários da fábrica em 11 décadas (2006). Composta por 12 televisores, essa obra reúne cenas de inúmeros filmes, produzidos de 1890 aos anos 2000.
O ponto de partida é um dos primeiros registros do cinema: um filme dos irmãos Lumière, de 1895, que mostra um grupo de funcionários saindo apressados de uma fábrica de produtos fotográficos, de propriedade dos próprios Lumière. Aparecem ainda, imagens de Fritz Lang, Charles Chaplin e Lars Von Trier, que nos levam a compreender a representação dos operários ao longo da história do cinema, abordando o papel político das imagens.
Política das imagens
O papel político das imagens se explicita em uma obras que está nesta exposição. Falo de Trabalhadores deixando seu local de trabalho (2011-2014). Muito interessante ver essa obra em contraposição com a saída dos operários da fábrica.
Aqui as imagens são contemporâneas e mostram uma diversidade de espaços. O universo da fábrica já não é mais a metáfora do mundo do trabalho. Com imagens de escritórios, das ruas das grandes cidades, a obra reflete as transformações de um sistema econômico, o capitalismo, que ao invés de produzir riqueza e liberdade, impôs um regime em que podemos trabalhar o tempo todo, a qualquer hora em qualquer lugar.
Farocki antecipou aquilo que hoje definimos como estéticas da vigilância. Na mostra que antecedeu essa que acontece em São Paulo, no IMS do Rio, o foco eram seus trabalhos sobre os sistemas de controle que emergem com as novas tecnologias e são replicadas a exaustão das webcameras das ruas aos cenários de videogames. Nessa que inaugura no IMS-Paulista, a discussão nos remete à compreensão do mundo 24/7, desse capitalismo tardio que conspira pelo fim do sono, como mostrou Jonathan Crary, e que desembocou no cotidiano da Sociedade do Cansaço, analisada por Byu Chul Hang.
Abertura no dia 17, terça-feira. Preparem-se!
Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).
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carla scritt
julho 22, 2020 at 16:36
Tempo controlado, território delimitado e todo mundo de saco cheio mas preferindo permanecer como está, afinal tudo tende a piorar. Chegamos ao estágio da VIDA – ANTIVIDA.