Está para sair pela editora Boitempo o livro Tecnopolíticas da vigilância, que reflete sobre a vigilância na era do Big data. Organizado por Bruno Cardoso, Fernanda Bruno, Lucas Melgaço, Luciana Guilhon e Marta Kanashiro, é o resultado das pesquisas da Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits).
Os textos discutem a imbricação dos dados com as diferentes esferas da vida social: a política, a cultura, os processos de construção de visibilidade e invisibilidade e as estratégias de contestação aos mecanismos de controle.
Um dos pontos altos é a tradução inédita para o português, do artigo seminal da professora emérita da Harvard Business School Shoshana Zuboff, “Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação” (2015). Zuboff disseca as particularidades do capitalismo de vigilância. Esse é, de acordo com Zuboff, um regime econômico no qual o poder se concentra em empresas, como Google e Facebook, que trabalham em hiperescala.
Essas empresas são capazes de modular comportamentos por meio da extração de dados individuais (o small data), e detém um poder ainda maior. O de prever esses comportamentos, via armazenamento e análise de grandes grupamentos de dados (o big data). Seguradoras podem, por exemplo, contar com sistemas de monitoramento de veículos para verificar se seus clientes estão dirigindo com segurança. Dessa forma, podem determinar se devem ou não manter sua apólice.
Vigilância algorítmica
Estamos entrando em um território novo, na qual os contratos deixam de exprimir arranjos sociais para funcionar segundo processos ditados pelo rastreamento de aplicativos e sensores.
Como mostram os diferentes textos dessa coletânea, a revolução algorítmica, que se dá no mundo de “internet das coisas” e smart cities, redefine nossas concepções de arquitetura, as fronteiras entre público e privado, a estética e os próprios modos de ver e ser visto.
A vigilância passa a funcionar de forma distribuída. É alimentada por equipamentos que reagem à presença dos cidadãos e informam bases de dados concentradas em servidores de algumas poucas empresas, mas que operam em diversas cidades do Brasil e do mundo.
O livro contempla também uma série de análises e estudos de casos de projetos que procuram confrontar esse estado de vigilância molecular. Esse é o foco e a principal contribuição dessa obra, que considero, desde já, leitura obrigatória.
Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).
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