Participei da exposição Back-end: vigilância, arte e privacidade com o vídeo Estética da delação premiada, que realizei com Nelson Brissac, feito a partir de imagens divulgadas publicamente pela PF das delações premiadas em abril de 2017. A exposição aconteceu na Faculdade de Direito da USP de 19 de agosto a 06 de setembro (2019) e a curadoria é Pedro Andrade e Renato Maretti.

Os curadores apresentam a mostra:

Na arquitetura de software tradicional, o termo back-end se refere à camada que lida com o acesso e a manipulação dos dados de uma aplicação. É a parte da linguagem que estrutura e estabelece as interações a serem executadas automaticamente, sendo sua construção invisível aos olhos do usuário comum. Back-end se opõe à ideia de front-end, a camada de apresentação da aplicação, sua interface amigável.

Grande parte de nossas relações atualmente é mediada por códigos, algoritmos e linguagens que sequer conhecemos. São como caixas pretas que processam interações, comunicações pessoais e acessos, muitas vezes decidindo que tipo de conteúdo se tornará parte de nossa realidade e o que será excluído. Ao mesmo tempo, empresas de tecnologia e da chamada economia compartilhada seguem acumulando expressivas fortunas, a despeito dos discursos altruístas que comumente empregam.

Esta exposição tomou forma a partir do convite realizado pelo centro de pesquisa InternetLab e procura dialogar com as temáticas do congresso “Direitos Fundamentais e Processo Penal na Era Digital”, também acolhido pela Faculdade de Direito da USP. Além disso, considerando diferentes linguagens artísticas e interseccionalidades, esperamos que a exposição possa estimular reflexões críticas sobre questões como a vigilância em massa e os dispositivos de controle de corpos, afetos e ideias.

Pedro Andrada e Rafael Maretti (2019)

Sobre a Estética da delação premiada:

Sinopse:
Os espaços são anódinos, salas e cubículos com paredes nuas, estantes vazias e mesas de fórmica. As webcams, posicionadas sem preocupação com enquadramento ou iluminação, revelam mochilas largadas nos cantos, garrafas de café, cadeiras vazias e fundos de Eucatex. As imagens são desfocadas, em ângulos oblíquos, deformando os rostos delatantes. Personagens se explicam acompanhados de advogados entediados. Oscilam entre a arrogância e a naturalidade, como se a confissão fosse em si uma redenção.Talvez seja a crueza primária dessas imagens, anterior a qualquer linguagem visual, a qualquer intenção estética, o que mais contribua para revelar o seu sentido último: o absoluto desprezo por considerações éticas e sociais das delações. Na sua falta de acabamento, são o retrato mais nítido do que impunidade quer dizer. Não é preciso ouvir os depoimentos. Essas imagens descartáveis nos mostram o estado mais brutal da cultura da vigilância: a estética da delação premiada e as imagens dos bastidores do poder que até agora não podíamos ver.

Artistas:

Aryani Marciano | Bruno Storni & Satoru Nakumo |Carolina Nóbrega |Coletivo Cartográfico | Gabriel Mascaro | Giselle Beiguelman & Nelson Brissac |Grupo Trecho |Guilherme Peters |Luiza Crosman |Mathias Gatti |Pedro Andrada |Renato Maretti |A Revolta da Lâmpada |Roberto Winter & Guilherme Peters | Rodrigo Siqueira |Sara Lana |Trupe Olho da Rua

Mais sobre a exposição: https://www.facebook.com/events/499347950866984/