Foi-se o tempo em que exposições de arquitetura eram mostras de plantas e maquetes. Cada vez mais inventivas, as exposições sobre arquitetura combinam soluções expográficas com curadorias especializadas, que imprimem conceitos ao espaço e aproximam o público das discussões contemporâneas sobre as cidades.
Bons exemplos dessa virada são a 12a Bienal de Arquitetura de São Paulo e a exposição Conversas na Praça – o urbanismo de Jorge Wilheim.
Todo dia: a 12a Bienal de Arquitetura de São Paulo
A Bienal de Arquitetura tem como tema o cotidiano e se dividiu em dois núcleos, um no Sesc 24 de maio e outro no CCSP. No Sesc a exposição terminou no dia 29 de setembro e no Centro Cultural São Paulo fica até dezembro. Programem-se para visitar. A expografia das duas exposições ficou a cargo dos arquitetos Martin Corullon e Gustavo Cedroni.
É muito interessante notar como não só mudaram as formas de expor, mas o caráter das obras, que assumem um viés instalativo, confundindo os limites entre arte e arquitetura.
Um bom exemplo, foi a obra dos arquitetos Renata Marquez e Wellington Cançado, de Belo Horizonte, que transformaram a rampa do prédio do Sesc 24 num mecanismo de visualização de dados. Com faixas coloridas de baixo custo, montaram um display que permitia aos visitantes compreender o aquecimento global, acompanhado, pelas cores dos paineis, as temperaturas médias anuais à medida em que se subia pelas rampas.
Conversas na praça: o urbanismo de Jorge Wilheim
Já a exposição está em cartaz no Sesc Consolação e se propõe a recuperar o legado de um dos urbanistas mais presentes no cotidiano de São Paulo, o arquiteto Jorge Wilheim, apostou-se na discussão sobre como pensar e fazer cidades mais humanas, justas e sustentáveis.
Esse casamento entre o passado, que é o acervo do Wilheim, com o presente e o futuro, que é o convite à reflexão feito pelo curador, meu colega Guilherme Wisnik, também colunista aqui da rádio USP, se equaciona pela ousada expografia, concebida pelo Pedro Mendes da Rocha.
Wilheim foi o responsável por alguns marcos da cidade de São Paulo, como a reurbanização do Vale do Anhangabaú, nos anos 1980, e do Pátio do Colégio e também pela construção do centro Anhembi, aliás abro aqui um parênteses para chamar a atenção de vocês às impressionantes fotos da construção do Anhembi.
A estrutura metálica do pavilhão de exposições, que tem mais de 60 mil metros quadrados, foi construída inteiramente no piso, em oito horas e levantada posteriormente. Isso evitou um problema de impacto orçamentário que teria sido insano. Pois caso se optasse construir um andaime provisório para um espaço desse tamanho, o andaime, em si, custaria mais do que a estrutura permanente.
Apesar de contar com algumas vitrines, o que domina a exposição são projeções e os bancos de praça e um espaço modular que serve para abrigar debates, mas também para ficar. A exposição não tem paredes e divisórias e funciona como um convite ao convívio, com o prédio e com as pessoas.
Eu visitei a exposição em um dia de semana e posso dizer que deu muito certo. Muita gente sentada nos bancos. Algumas lendo, outras conversando, várias usando o lugar para, obviamente, contemplar e vivenciar a exposição .
Confiram. Fica em cartaz até 14 de dezembro.
Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).
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