Abre no dia 14 de agosto a Ocupação Vladimir Herzog, no Itaú Cultural, voltada para a vida e obra do jornalista, assassinado pela Ditadura, sob tortura no DOI-Codi, em 1975.
Com curadoria de Luis Ludmer, um talentoso diretor de cinema e televisão, que recentemente defendeu seu mestrado na FAUUSP e que é também membro do Instituto Vladimir Herzog, a mostra traz fotos do acervo da família Herzog e estudos para filmes documentários que nunca chegou a concretizar. Fac-simeles de artigos seus, objetos pessoais e correspondências que nunca foram divulgadas.
Vlado, seu nome verdadeiro, e também como era chamado pelos amigos, nasceu na Iugoslávia de onde seus pais (judeus) fugiram da ascensão nazista no início dos anos 1940, passando pela Itália, até chegarem no Brasil em 1947. Em seu livro ‘As duas guerras de Vlado Herzog’ (Civilização Brasileira, 2012) o jornalista Audálio Dantas descreve a saga da família Herzog em sua fuga desesperada da Iugoslávia, para longe do horror da guerra que despedaçava a Europa e perseguia cruelmente os judeus.
Como comentou comigo o curador “O pequeno Vlado viveu na Europa sua primeira guerra e aprendeu ali dolorosas lições. A segunda guerra ele travou no Brasil, país no qual sua família refugiou em busca de paz. Mas foi aqui que sua vida lhe foi duramente tirada, na escuridão de uma sala de tortura, episódio que marcou para sempre a história dessa família e da luta política aqui no país.”
Violência do regime ditatorial
A exposição coloca em pauta a reflexão sobre a violência de um regime ditatorial e o obsucarantismo a que um regime de cerceamento da liberdade pode nos levar. Rediscutir e repensar esse momento é fundamental, especialmente quando um perverso revisionismo histórico pretende legitimar a tortura ou relativizar sua ocorrência.
A exposição traz inclusive uma das mais famosas obras da série Inserções em circuitos ideológicos do artista Cildo Meireles, que estampou, à época do assassinato de Herzog, notas de 1 cruzeiro com a frase: quem matou Herzog? (no destaque deste post)
Mostra também fotos da cerimônia ecumênica realizada antes do enterro na catedral da Sé, com D. Paulo Evaristo Arns, então arcebispo, e o rabino Henry Sobel, récem-chegado ao Brasil, que não permitiu que Herzog fosse enterrado no setor dos suicidas no cemitério judaico.
Como me disse o curador Luis Ludmer, “Num momento assistimos a ascensão de governos conservadores eleitos democraticamente defendendo valores anti-democráticos e a escalada da intolerância nas sociedades, polarizadas e impregnadas de preconceitos raciais, disseminar e lembrar, por meio de sua produção intelectual, os valores praticados por Vladimir Herzog em vida é uma estratégia para evitar que as “duas guerras” que se abateram sobre Vlado (a do antissemitismo e sua morte pela censura à liberdade de expressão) não voltem a vigorar jamais.”
Eu concordo e termino com uma frase do Vlado:
“Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerar seres humanos civilizados.” Vladimir Herzog.
Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).
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