Hiperconexão e dispersão desafiam museus e exposições de arte. 33a Bienal propõe projeto educativo baseado na experiência e na atenção
áudio da coluna Ouvir Imagens – Rádio USP
O tema do Museum Day, um evento mundial promovido pelo ICOM (Conselho Internacional de Museus), neste ano foi Museus Hiperconectados: Novas Abordagens, Novos Públicos. Reflete o impacto das mídias digitais e da Internet nos museus, tanto no que diz respeito a sua organização interna, quanto às formas como os museus se relacionam com seu público e vice-versa. Falei sobre isso no CCBB, no Laboratório de Crítica e Curadoria do JA.CA – Arte e Tecnologia e na Rádio USP, na minha coluna Ouvir Imagens.
Em Reinventing the Museum, Gail Anderson, destaca que nos últimos 30 anos os museus mudaram muito. Ganharam um novo perfil, deixando de ser “torres de marfim” e ícones nacionais para especializar-se em temas, abriram-se para o multiculturalismo, passaram a ter como prioridade os programas públicos, adotaram sistemas de tomada de decisão compartilhada e passaram a priorizar formas de comunicação mais abertas e incentivar o diálogo dos visitantes com a instituição. Tudo isso foi potencializado pela popularização das mídias digitais.
Contudo… O que se verifica também é que essa popularização das mídias digitais trouxe novos problemas, especialmente às dinâmicas dos ambientes expositivos. O uso cada mais intenso de celulares têm transformado algumas exposições, em particular as de grande público, em verdadeiros pontos de selfie. Não que fazer selfie em exposições seja um problema. Problema é esvaziar completamente a experiência, suprimindo o contato com a obra pelo mero registro de um autorretrato e o uso da hashtags de divulgação.
Um estudo feito por Loic Tallon, que é o responsável pela mídias digitais do Metropolitan de Nova York, mostrou que na maior parte dos museus dos EUA, os departamentos de mídias digitais estão subordinados aos departamentos de marketing e comunicação. Em apenas um deles, no Art Institute de Chicago, esse Departamento está relacionado à direção curatorial. Seria interessante fazer um levantamento no Brasil para saber quantos museus têm áreas específicas que cuidam de mídias digitais e a qual setor do museu estão ligados.
Com base nesse estudo do Metropolitan, essa distância entre os departamentos de mídias digitais da curadoria e dos setores ligados ao educativo, pode explicar esse efeito de uso dispersivo e pouco sintonizado com as exposições.
Nesse contexto, ganha relevância o projeto educativo da 33a Bienal, que acontece neste ano, a partir de setembro. Pensado como um sistema abrangente, que possa funcionar não apenas para essa edição do evento, mas como um projeto de educação pública, tem o sugestivo nome de Convite à Atenção. É baseado em uma publicação que já está disponível para download na Internet e a traz uma série de exercícios que privilegiam a experiência das obras, a vivência coletiva e o compartilhamento de ideias.
A publicação é composta por um conjunto de cartas que compõem os exercícios. Como a leitura e o silêncio são intrínsecos a esse convite feito pelas educadoras Lilian L’Abbate Kelian e Helena Freire Weffort, responsáveis pelo projeto junto com a equipe educativa da Bienal, não vou contar aqui quais são essas etapas. Mas tem algo que não posso me furtar de dizer. Para entrar no processo é preciso colocar o celular em modo avião. Mais informações nos links abaixo.
Links comentados:
Gail Anderson. Reinventing the Museum
Loic Tallon. Digital Is More Than a Department, It Is a Collective Responsibility
33a Bienal. Convite à Atenção
PS: Obrigada Nathalia Lavigne e Jeff Keese pelas referências de Loic Tallon e Convite à atenção.
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