Ainda estamos todos abalados com o incêndio que devastou o Museu Nacional, mas eu abro esta coluna para celebrar a memória de um dos agentes mais importantes do nosso patrimônio cultural. Acaba de sair do forno o livro Walter Zanini: vanguardas, desmaterialização, tecnologias na arte.
Organizado pelo professor da UFMG Eduardo de Jesus, um dos principais pensadores brasileiros da midiarte, o livro, publicado pela editora WMF Martins Fontes, apresenta uma longa pesquisa do Professor Walter Zanini sobre a presença das tecnologias na produção artística desde fim do século XIX.
A pesquisa, iniciada em 1997, foi interrompida em 2005, quando o Professor Zanini aceitou o convite de Cristina Freire, docente e curadora do MAC-USP, para organizar uma compilação de sua produção crítica e teórica. A condição de Zanini para aceitar o convite foi que todo o material fosse revisto e atualizado.
O esforço dessa empreitada intelectual resultou no imprescindível livro Walter Zanini escrituras críticas, organizado por Cristina Freire e publicado em 2013, ano do falecimento do professor (leia aqui perfil do professor escrito pela crítica Angélica de Moraes na revista seLecT).
O nome do professor Zanini está ligado não só à atividade crítica e teórica, mas também à história do MAC-USP, que ele dirigiu de 1963, ano de sua inauguração, até 1978. Sua atividade à frente desse museu, transformou a instituição em um verdadeiro laboratório aberto para as então novas artes, como a arte postal e a videoarte.
O livro está dividido em sete capítulos e é enriquecido por uma introdução pra lá de rigorosa e precisa de Eduardo de Jesus, um texto adicional escrito por Zanini, a convite de Diana Domigues, outra artista pesquisadora referencial na história da arte e tecnologia, para um de seus livros (Arte no século 21, 2009), uma biografia intelectual do professor Zanini e várias imagens.
O primeiro capítulo, “Da arte artesanal e mecânica à arte eletrônica”, é um estudo instigante que problematiza as interfaces entre arte e tecnologia à luz de suas relações com as transformações da arquitetura e do design no século XIX. Na sequencia vem “Arte cinética”, “O impulso para o imaterial”, “Aspectos da contribuição do cinema de artista e experimental”, um capítulo inteiramente dedicado ao Vídeo e outro à videoarte no Brasil.
Eu teria ainda que comentar a relevância do Professor Walter Zanini para o estatuto da arte postal, a performance, as artes instalativas, sua atuação à frente da Bienal de São Paulo, da qual foi curador duas vezes (1981 e 1983) e tantas outras inovações que esse mestre dos mestres nos legou. Mas o tempo desta coluna na Rádio USP não permite e vocês terão que se embrenhar na doce tarefa de ler o livro.
No dia 17, acontece debate e apresentação do livro no Itaú Cultural com a participação do organizador da obra, Eduardo de Jesus
Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).
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