Visitei a exposição Marc Ferrez: Território e Imagem e posso dizer que é uma aula sobre arte, tecnologia e fotografia. A exposição, que tem curadoria de Sergio Burgi e pesquisa de Ileana Pradilla Ceron, apresenta mais de 300 itens do acervo do IMS e de outras instituições.
Além de fotografias e álbuns originais, a exposição inclui negativos de vidro, estereoscopias, autocromos, câmeras e equipamentos fotográficos, documentos originais, como os cadernos de Marc Ferrez, com suas anotações de campo e correspondências.
Mais conhecido pelas suas fotos do Rio Janeiro, Ferrez foi também uma testemunha ocular das grandes transformações ocorridas na paisagem urbana brasileira. Ele percorreu o país de Norte a Sul, como fotógrafo oficial da Comissão Geológica do Império do Brasil (1875-1878), e por ter sido também fotógrafo das principais ferrovias, documentou em imagens impressionantes, a implantação dessa infraestrutura que alteraria profundamente o território nacional.
Destaco especialmente a riqueza da diversidade material dessa exposição, que permite ao visitante ter uma ideia do que significou esse momento da virada do século 19 ao 20 para a constituição do horizonte visual contemporâneo. São diapositivos para projeção em lanterna mágicas, imagens coloridas feitas no princípio do século 20, estreoscopias que mostram o quanto a tecnologia de visão 3D estava madura no há mais de um século, e imagens panorâmicas, feitas com câmera avançadíssimo para a época.
Fotografia: cultura material e tecnologia
A expografia, a cargo do arquiteto Alvaro Razuk e equipe é um primor. Assim, além de ver as imagens, que deixam claro a força da fotografia como dispositivo para a construção do conhecimento, somos brindados com os equipamentos e explicação dos processos de elaboração das imagens. Dessa forma, percebe-se que as imagens técnicas, como chamava Vilém Flusser as imagens que não são feitas diretamente pelo homem, mas são mediadas por equipamentos que participam do processo criativo, são resultantes de um movimento transdisciplinar em que se combinam o universo da ciência e da indústria às artes.
No caso dessa exposição, isso chama muito a atenção, pois muitas das imagens foram retrabalhadas com tecnologias só acessíveis no século 21, com ampliações fotográficas que chegam a 3 metros, projeções em grande escala de fotos do século 19 e óculos para visualização tridimensional das antigas estereoscopias de Ferrez.
Tem que ver pessoalmente. A exposição fica em cartaz até 21 de julho no IMS-Paulista.
Imagem: Marc Ferrez, foto da construção da Estrada de Ferro Santos Jundiaí pela Sao Paulo Railway, c. 1880, em exposição no IMS-Paulista em Marc Ferrez: Território e imagem. Coleção Gilberto Ferrez / Acervo IMS.
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