Qual futuro da fotografia e do olhar, quando confrontados com o emergente mundo da Inteligência Artificial? Ao alcance da mão de qualquer um, as tecnologias de IA mostram que o futuro da imagem não passa pelos olhos e sim pelas técnicas de aprendizado de máquinas (machine learning).

Aplicativos como FaceAppDeepNude e Lensa fazem parte dessa geração de novas tendências. São recursos para quem tira fotos com o celular e usa Instagram. Ou seja, são aplicativos para um público alvo de milhões de pessoas. Em comum, combinam Inteligência Artificial e visão computacional para criar imagens do que poderia ter acontecido em um futuro que não foi.

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Já foi bastante noticiada a potencial instrumentalização desses aplicativos para coletar dados e arquivar padrões que podem ser utilizados para fins de vigilância ou outras formas de manipulação. Meu ponto é outro. Pergunto como esses aplicativos respondem a um momento que, malgrado a obsolescência programada da tecnologia e a falência institucional da infraestrutura da cultura, teima em ser eternamente “xovem”.

Abolimos o “passado como passado”, disse o filósofo Peter Pelbart, ou pelo menos o passado da forma que o conhecíamos: como uma herança que se recebe e que se constrói. Por um lado, “o amanhã é hoje”, tal qual aprendemos com o slogan do Museu do Amanhã (em vias de estrangulamento, o que não deixa de ser mais irônico).

Por outro, dadas as catástrofes ecológicas cada vez mais recorrentes, as mudanças climáticas provocadas pela ação humana e o aumento exponencial de lixo tecnológico produzido diariamente, talvez não tenhamos, de fato, algo a conservar. E, nesse sentido, como afirmou o historiador francês Henri Pierre-Jeudy, “o que estaria impulsionando a conservação para o futuro não é mais a angústia da perda dos vestígios, mas sim o medo de não ter nada para transmitir”.

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