Ouvir Imagens. Rádio USP, 18/02/2019

O antissemitismo volta a crescer e marcar presença. A última pesquisa da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia sobre o antissemitismo, revelou que para 89% dos entrevistados o antissemitismo na internet é um problema em seu país.

Mas, como nós sabemos a internet é uma das dimensões da realidade do nosso tempo. E as manifestações de ódio que ocorrem on-line, ocorrem na vida social como um todo.

O Professor da Unifesp Daniel Feldmann destaca que esse tipo de manifestação tem como alvo “aqueles que aparecem como estranhos, como ameaçadores, como fora do padrão ou ainda que parecem relativamente imunes às compulsões sociais em curso.”

Com relação ao antissemitismo, as ocorrências se multiplicam.
Na França, os ataques antissemitas cresceram 74% no último ano… Na Alemanha, 60%.

Apesar do antissemitismo ser marcante nos grupos de extrema direita, há inúmeros grupos de esquerda que incorporam discursos tipicamente antissemitas.

Antissemitismo à direita e à esquerda

A conivência das ditaduras latino-americanas com os criminosos nazistas é conhecida e deixou raízes que precisam ser desenterradas. Semana passada a Folha de S. Paulo noticiou como em 1978, Henrique Araújo, pai no nosso atual chanceler e então procurador-geral da República, negou a extradição de um nazista responsabilizado por 250 mil mortes no campo de concentração de Sobibor, na Polônia, usando artifícios tipicamente antissemitas, como tratar essas mortes como crimes prescritos.

Acontece que não estamos falando de um homicídio e sim de genocídio. Portanto, crime de lesa humanidade e imprescritível, conforme as normas internacionais.

Mas, infelizmente, o antissemitismo, como eu dizia não é uma exclusividade da direita. Basta lembrar aqui da tragédia de Brumadinho da série de postagens absolutamente preconceituosas feitas a pretexto de se criticar a presença dos 136 soldados socorristas israelenses que vieram para cá. O sobrenome judaico do presidente da Vale serviu para qualificá-lo como “geneticamente israelense”, uma definição com óbvia conotação racista.

Criou-se uma verdadeira febre de teses sobre a conspiração judaico-sionista mundial e disseminaram-se a charges caricaturais e estereotipadas dos soldados, como as que os nazistas faziam dos judeus na Europa hitlerista.

A aliança dos governos de direita de Benjamin Netanyahu e Jair Bolsonaro não pode ser usada para legitimar a manifestações antissemitas. Não tenho qualquer afinidade com esses governantes, mas tenho menos ainda com discursos e práticas discriminatórias, preconceituosas e racistas. Termino essa coluna com uma manifestação de repúdio total ao antissemitismo e todas as formas de racismo.

Imagem: Loja Bagelstein é pichada com Juden (judeu em alemão) em Paris, no dia 9/2/2019. Referência direta à Noite dos Cristais da Alemanha Nazista (1938).

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