Um dos méritos dos artistas premiados na 8a edição do Prêmio Sergio Motta de Arte & Tecnologia é a sua capacidade de não ceder aos encantos tecnoparnasianos (o uso da tecnologia pela tecnologia). Esse é um dos problemas mais comuns na área de criação com meios digitais.
A inegável popularização e a bem-vinda melhoria e barateamento dos programas e dispositivos tecnológicos, tem sido acompanhada não só de novas esferas de experimentação, mas também de uma comoditização do discurso de marketing. Essa comoditização mostra como são bem sucedidas as retóricas visuais daquilo que venho chamando de “a era do capitalismo fofinho”. Um capitalismo em que tudo soa onomatopéico, feliz e redondinho, como os logos e os nomes das principais redes sociais da web 2.0.
Em contraponto a essa tendência, constata-se uma interressante vertente tecnofágica, ou uma antropofagia tecnológica, marcada pelo uso crítico e criativo das mídias. Essa vertente pode ser um primeiro esboço de uma nova prática estética que opera pela combinação de dispositivos hi e low tech, práticas de circuit bending, remodelagem de equipamentos e integração de mídias de idades variadas.
Não se trata de mais um escorregão retrô, expressando noções de reciclagem meramente cosméticas de antigos equipamentos, que dá a tônica da indústria de vários bens de consumo, de geladeiras a carros.
Como já pontuou o crítico T. J. Clark esse tipo de mercadoria com estilo do passado serve apenas “inventar uma história, um tempo perdido de intimidade e estabilidade, de que todo mundo afirma lembrar-se, mas que ninguém teve.” A produção dos artistas selecionados nesta 8a edição do Prêmio Sergio Motta (especialmente os da categoria “em início de carreira”) não dialoga com esse “revival” pasteurizado.
Mais promissora, parece incorporar algumas tradições antropofágicas da arte brasileira – incluindo-se aí também os artistas artemidiáticos mais antigos — para questionar os limites da interface, as estratégias táticas, as práticas de compartilhamento e os desafios das relações entre arte e ciência.
Statement curatorial do 8o Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia.
Mari-Jô Zilveti
setembro 21, 2009 at 13:28
Giselle,
eu e seu ex-aluno Luiz Fernando lemos seu texto acima e gostamos muito da crítica que você tece aos adoradores da tecnologia pela tecnologia e à produção revival pasteurizada, em voga em produtos e incensada pela mídia. Ponto positivo para os premiados e selecionados artistas.
Abraços des-virtuais e beijos de zeros e uns.
Mari-Jô Zilveti
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Daniel Seda
outubro 15, 2009 at 16:56
Concordo que é preciso ter uma visão/ação crítica sobre a tecnologia.
Acho também que, infelizmente, o conceito tem sobrepujado a poética no coração dos críticos/curadores e jurados por aí, o que torna as exposições áridas para o público. Muitas exposições são isso ou então meros techno-brinquedos sem nenhuma transcendência artística ou estética…
Aguardo pela exibição dos trabalhos.
(Aproveitando a ocasião, lamento profundamente que o jurí do Prêmio SM não tenha sabido valorizar minha pesquisa de texto/imagem/performance/tecnologia realizada junto com o Almir Almas dentro do Namahaiku.
Continuaremos nossa pesquisa e qualquer hora a moda, que norteia o julgamento das pessoas, passa pela gente.)
😉
Enfim, avanti.
Abs
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