Sem loop nem volta
Cinema sem Volta aborda as ambivalências da rede como espaço onde confluem todas as multidões e as turbas, revelando os discursos mais extremos no espectro político contemporâneo.
A partir de hashtags comuns a tendências e aspirações ideológicas radicalmente distintas, como homofobia, terrorismo, copa2014 entre outras, compõe-se um audiovisual dinâmico que carrega imagens a partir de buscas automáticas no Instagram.
O resultado é um slideshow infinito que, em suas contradições, enuncia a batalha de linguagem pela visibilidade como uma das questões políticas mais acirradas do nosso tempo.
Menos idealizadas do que gostaríamos que fossem, mais pulsantes e desejantes do que esperariam outros, as sequências que aparecem aqui compõem um patchwork de disputas, por vezes desconcertante, por vezes estimulante, pelo território informacional, transnacional e local que flui nas redes.
Modos de ver
As telas são divididas em conjuntos de 140 imagens. Pode-se navegar por telas verticalmente, ou horizontalmente em formato slideshow, com as imagens ampliadas. Nesse formato, é possível escolher que a sequência rode automaticamente, manualmente e conhecer as hashtags associadas às imagens disponibilizadas e ao nome de usuário relacionado a essa postagem.
Com relação às visualizações, é possível visualizar Cinema sem volta de três formas: Darwinista, Proporcional e Filtrada.
No primeiro caso (Darwinista), apresentamos a coleta de dados diretamente do Instagram para as redes. Nesse modo, os resultados revelam a força do processo de “seleção natural” dos dados na arquitetura da web 2.0. O mais forte (mais citado) sempre vence. É comum, por isso, nessa opção visualizar sequências longas de várias imagens relacionadas à mesma hashtag.
No modo Proporcional, o algoritmo desenvolvido para o projeto apresenta as imagens reservando 40% para a mais citada e 5% para a menos citada. Respeita-se, portanto, a hierarquia de incidência de uma determinada hashtag e sua preponderância sobre outras, porém permitindo que se visualizem todas em cada conjunto de 140 imagens de uma vez.
No modo Filtrado, abre-se a possibilidade de o visitante escolher as combinações de hashtags que quer visualizar. É possível ver apenas uma ou combinar até três hashtags entre si. Os resultados podem ser desconcertantes.
Metanarrativas
A história contemporânea está sendo escrita com hashtags. Muito mais que uma simples palavra-chave precedida por um símbolo de cerquilha, hashtags são um recurso fundamental no processo de distribuição dos conteúdos nas redes on-line. Espécie de “dado que descreve o dado”, são informações adicionadas ao conteúdo, criando uma arquitetura curiosa de arquivos e suas camadas associadas.
As possibilidades narrativas que abrem são inéditas, agenciando leituras do presente que fogem do padrão tradicional de coerência com que nos acostumamos a receber o conteúdo filtrado por intelectuais, analistas e produtores profissionais de mídia em geral. Por um lado, colocam em circulação uma inegável pluralidade de vozes; por outro, as diferenças tendem a ser eclipsadas nas associações feitas com algumas hashtags dominantes. Fazer aparecer suas ambivalências, maximizar as possibilidades de leitura das hashtags “mais fracas” com que são articuladas é desde já um desafio aos intérpretes do Cinema sem volta do nosso agora.
Multitudes
Cinema sem Volta é uma obra comissionada para o projeto Multitude realizado pelo Sesc com coordenação e curadoria de Lucas Bambozzi e Andrea Caruso Saturnino e lançada no contexto do projeto A Web aos 25.
Realizado pelo The Webby Awards, International Academy of Digital Arts and Science, Tim Berners - Lee, World Wide Web Consortium (W3C) e a World Wide Web Foundation, A Web aos 25 convidou um grupo de artistas, escritores e diretores de cinema cujas obras, no campo da net art e da experimentação, são emblemáticas da história da Internet e do movimento que a defende como bem comum e aberto para todos.
A versão instalativa fica em cartaz na exposição Multitude, no Sesc Pompeia, de 29/05 a 17/8.